quarta-feira, 19 de março de 2014

Ações na obra "Os Maias"

A Corrida de Cavalos

Os objectivo deste episódio são: o contacto de Carlos com a alta sociedade lisboeta, incluindo o rei; uma visão panorâmica desta sociedade sobre o olhar crítico de Carlos; tentativa frustrada de igualar Lisboa às demais capitais europeias; denunciar o cosmopolitismo postiço da sociedade.
A visão caricatural é dada pelo espaço do Hipódromo: parecendo um arraial; as pessoas não sabiam ocupar os seus lugares e as senhoras traziam vestidos de missa. O buffett tinha um aspecto nojento. As corridas terminaram grotescamente e a primeira corrida terminou mesmo numa cena de pancadaria.
Ressaltamos deste episódio, o fracasso dos objectivo das corridas, o atraso da sociedade lisboeta e a sua falta de civismo.

Hotel Central

Neste jantar, desfilam as principais figuras proporcionando a Carlos um primeiro contacto com o meio social lisboeta. Este jantar, pretende homenagear o banqueiro J. Cohen; apresentar a visão crítica de alguns problemas; e proporcionar a Carlos a visão de Maria Eduarda.
Discute-se, neste jantar, a Literatura e a crítica literária, em que Tomás de Alencar, opositor do realismo/naturalismo, revela incoerência condenando no presente, o que cantara no passado. Refugia-se na moral por não ter mais argumentos. Acha o realismo/naturalismo imoral. É um desfasado do seu tempo, defende a crítica literária de natureza acadêmica. Este opõe-se a João da Ega, defensor da escola realista/naturalista. Ega exagera e defende o cientificismo na literatura. Não distingue ciência e literatura.
Nesta discussão entram também, Carlos e Craft, recusando simultaneamente o ultra-romantismo de Alencar e o exagero de Ega. Craft defende a arte como idealização do que de melhor há na natureza, defende a arte pela arte. O narrador concorda com ambos.

As finanças são também um tema debatido neste jantar. O país tem necessidade dos empréstimos ao estrangeiro. Cohen demonstra o seu calculismo cínico quando, ao ter responsabilidades pelo seu cargo, afirma que o país vai direitinho para a banca rota.
Outro tema também focado é a história e a política, cujos intervenientes são Ega e Alencar. O primeiro, aplaude as afirmações de Cohen, defende uma catástrofe nacional como forma de acordar o país. Afirma que a raça portuguesa é a mais covarde e miserável da Europa. Aplaude a instalação da república e a invasão espanhola. Alencar, por sua vez, teme a invasão espanhola e defende o romantismo político, esquecendo o adormecimento geral do país.
Cohen afirma que Ega é um exagerado e que nas camadas políticas ainda há gente séria. Dâmaso diz que se acontece-se a invasão espanhola fugiria para Paris.
Deste jantar sobressai a falta de personalidade de Ega e Alencar, que mudam de opinião quando Cohen quer (saliente-se que Ega era amante da sua esposa), e de Dâmaso, que foge de tudo. Sobressai, também, a falta de cultura e civismo (Ega e Alencar quase chegam a vias de facto), que domina as classes mais destacadas, excepto Carlos e Craft.

O jantar dos Gouvarinhos

O objectivo deste jantar é reunir a alta burguesia e aristocracia, apresentando a ignorância das classes dirigentes que revelam incapacidade de diálogo por manifesta falta de cultura. Gouvarinho e Sousa Neto discutem. O primeiro, que vai ser ministro, revela imensa ignorância, não compreendendo a ironia de Ega. É retrogrado e tem lapsos de memória.
Sousa Neto desconhece o sociólogo Proudhon, é deputado, não entra nas discussões e acata pacificamente as opiniões alheias. Defende a imitação do estrangeiro.

Imprensa

A Imprensa é também largamente criticada por meio de vários sucedidos. Eça pretende descrever a situação do jornalismo português, confrontando-a com a situação do país.
Dois jornais são alvo de crítica - A Tarde e A Corneta do Diabo. Esta última, cujo diretor é o imoral Palma Cavalão, tem uma redação imunda. É este jornal, que publica o artigo de Dâmaso por dinheiro, mas acaba por vender todo esse n.º do jornal a Carlos, também por dinheiro. As suas publicações são, assim, de baixo nível.
A Tarde, cujo diretor é o deputado Neves, serve-se da carta de retratação de Dâmaso, como meio de vingança contra o inimigo político. Este jornal pública apenas artigos dos seus correligionários políticos.
Assim, Eça pretende denunciar o baixo nível, a intriga suja, o compadrio político, desses jornais que considera espelhos do país.

O Sarau do teatro da Trindade


Evidencia-se o gosto dos portugueses, dominados por valores caducos, enraizados num sentimentalismo educacional e social ultrapassados. Total ausência de espírito crítico e analítico da alta burguesia e da aristocracia nacionais e a sua falta de cultura.
Rufino, o orador “sublime”, que pregava a “caridade” e o “progresso”, representa a orientação mental daqueles que o ouviam: a sua retórica vazia e impregnada de artificialismos barrocos e ultra-românticos traduz a sensibilidade literária da época, o seu enaltecimento á nação e à família.
Cruges, que tocou Beethoven, representa aqueles que, em Portugal, se distinguiam pelo verdadeiro amor à arte e que, tocando a Sonata patética, surgiu como alvo de risos mal disfarçados, depois de a marquesa dizer que se tratava da Sonata Pateta, o que o tornaria o fiasco da noite.
Alencar declamou “A Democracia”, depois de “um maganão gordo” lamentar que nós Portugueses, não aproveitássemos “herança dos nossos avós”, revelando um patriotismo convincente. O poeta aliava, agora, poesia, e política, numa encenação exuberante, que traduzia a sua emoção pelo facto de ter ouvido “uma voz saída do fundo dos séculos” e que o levava a querer a República, essa ”aurora” (e os aplausos foram numerosos) que viria com Deus.

Episodio final

Este episódio é o epílogo do romance. 10 anos depois, e quando Carlos visita Lisboa, vindo de Paris. Este passeio é simbólico, por isso, os espaços percorridos são espaços históricos e ideológicos, estes podem agrupar-se em três conjuntos.
No primeiro domina a estátua de Camões que, triste, representa o Portugal heróico, glorioso mas perdido, e desperta um sentimento de nostalgia. A estátua está envolvida numa atmosfera de estagnação, tal como o país.
No segundo conjunto, dominam aspectos ligados ao Portugal absolutista. É a zona antiga da cidade, os bairros antigos representam a época anterior ao Liberalismo, o tempo absolutista, recusado por Carlos por causa da sua intolerância e do seu clericalismo, que levam a que toda a sua descrição seja depreciativa.
No terceiro conjunto, domina o presente, o tempo da Regeneração, como é o caso do Chiado e dos Restauradores, símbolos de uma tentativa falhada de reconstrução do país, e a prová-lo está o ambiente de decadência e amolecimento que cerca o obelisco.
O Ramalhete integra-se neste conjunto, também ele atingido pela destruição e pelo abandono. Pode funcionar como sinédoque da cidade e do país.


Fonte: http://www.citi.pt/cultura/literatura/romance/eca_queiroz/maias_critica_social.html