sábado, 5 de abril de 2014

Critica a humilhação dos humildes

 A humilhação sentimental


Na poesia de Cesário, a imagem da mulher burguesa surge como crítica social, utilizada no contexto da caracterização da cidade, por oposição ao campo.
A mulher burguesa é caracterizada como extremamente bela e sensual; no entanto, revela-se altiva, distante , fria e superficial – o tipo citadino e aristocrático -, exercendo sobre o poeta um fascínio total que o conduz à humilhação.
É notório a anulação do poeta perante a aristocrata, qual mulher fatal, que submete o poeta a uma subserviência amorosa, abdicando da sua própria independência e liberdade em relação a uma mulher que o fascina e estonteia, mas que o ignora.
A submissão do poeta leva-o a uma relação de criado-senhora. Ela é o tipo burguês aristocrático que, devido à sua posição social, se coloca acima das outras classes; ele é o servo que vive submisso à mulher. No entanto, ela ignora a sua presença, não revelando qualquer sentimento pelo poeta, o que o leva a humilhação. Mais do que a rejeição amorosa, a Cesário magoa o facto desta postura altiva evidenciar desprezo por todos os que se encontram num nível inferior ao seu. É esta humilhação que deixa o coração do poeta dilacerado.
Cesário dá-nos um retrato da mulher citadina aliado à artificialidade e à opressão social da cidade, uma mulher frígida e superior, que estonteia e fascina, que o hipnotiza e o trata com indiferença, com o seu porte britânico e altivo.

A humilhação estética

A revolta pela incompreensão que os outros manifestam em relação à sua poesia e pela recusa de publicação por alguns jornais («Contrariedades»).

 A humilhação social

A técnica realista de Cesário permite-nos ter uma visão das transformações económicas, sociais, culturais que se operam na cidade de Lisboa no final do século XIX .
Tais transformações são o mote para a crítica à sociedade do século XIX (Eça de Queirós), não só pelo contraste das classes sociais mas, acima de tudo, pela atitude de desdém da burguesia em relação ao povo, ao proletariado.
Com a febre das construções, da abertura de ruas amplas, surge uma massa de trabalhadores que importa enumerar: pedreiros, carpinteiros, calceteiros, ferreiros, que, por sua vez, se juntavam aos operários das novas fábricas. Organizava-se uma nova classe social - o operariado -, que veio a gerar um antagonismo social ao qual Cesário esteve atento: aqueles que trabalhavam de sol a sol viviam uma vida degradante e miserável; aqueles que viviam do trabalho do operariado, levando uma vida de ócio e prazer, vivam luxuosa e tranquilamente.
Cesário simpatiza naturalmente com todos aqueles que trabalham e se vêem esmagados pelos que parasitam e vivem da sua exploração. Lastima ainda a asfixia de tantos que vivem ou vegetam encarcerados em ambientes citadinos pesados como chumbo, principalmente aqueles que labutam diariamente, desde o romper do sol até anoitecer, ao serviço de burgueses inúteis, incapazes de mudar a sua condição social.
Cesário recusa as hierarquias sociais, anula a sua posição de burguês, contactando directamente com as pessoas, preferencialmente com as do campo, que lhe transmitem as forças, a alegria, a plenitude, revigorando-lhe o espírito.
Coloca-se ao lado dos desfavorecidos, vítimas da opressão social da cidade, denunciando as circunstâncias sociais injustas.

http://lusofonia.com.sapo.pt/literatura_portuguesa/cesario_verde.htm