terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Atos ilocutórios

As palavras e a linguagem têm um enorme poder nas nossas vidas, uma vez que, quando comunicamos, interagimos com os outros, não nos limitamos simplesmente a dizer/falar algo. Na maior parte das situações comunicativas, há determinados objetivos precisos nos nossos atos de fala/atos ilocutórios. Os enunciados podem servir para emitir juízos, expressar emoções, levar os outros a fazerem algo, legitimar a realidade ou, até, criar realidade nova. A linguagem tem, assim, uma função social.
Avaliar os atos ilocutórios implica, portanto, atender-se ao respetivo contexto de produção desses atos bem como à relação do locutor com o(s) seu(s) interlocutor(es), o espaço e o tempo, o universo de referência do que é dito.
Articulando a tipologia dos atos ilocutórios com algumas das marcas linguísticas predominantes, é possível distribui-los da seguinte forma:
Atos ilocutórios assertivos 
Traduzem uma posição, uma verdade assumida pelo locutor. Tem como marcas linguísticas predominantes os verbos declarativos (exs.: afirmar, concluir, declarar, dizer, aceitar, etc.), verbos assertivos (exs.: aceitar, admitir, achar, acreditar, considerar, confessar, discordar, negar, responder, entender, etc.),expressões verbais modalizadas(exs.: considerar / achar necessário, possível, certo; colocar a hipótese de, etc.) e asserções simples(afirmativas/negativas).
Exemplos :
.    *   O Eusébio foi um grande futebolista.
*   Acredito que o Sporting será campeão.

Atos ilocutórios directivos

Revelam a intenção de o locutor (através de ordens, sugestões, pedidos, …) conduzir o interlocutor a agir segundo o que lhe é dito, isto é, à realização de uma acção. Expressam  ordens, pedidos, conselhos, avisos, sugestões, instruções através de:

* frases de tipo imperativo;
verbos directivos (exs.: avisar, exigir, implorar, mandar, ordenar, proibir, etc.) 
Expressam pedidos de informação/confirmação com base em:
* frases simples interrogativas;
* frases complexas/interrogativas dominadas por verbos de inquirição (exs.: perguntar, interrogar, inquirir, investigar, etc.);
*frases interrogativas negativas com valor positivo.
Exemplos : 
 Assine aqui, por favor.
Não é verdade que demoraste três horas a fazer o teste?

Atos ilocutórios expressivos

Exprimem sentimentos, emoções, estados de espírito do locutor face ao que enuncia. Tem como marcas: 
Verbos expressivos (exs.: agradecer, compadecer-se, congratular-se, deplorar, desculpar-se, deplorar, felicitar. lamentar, repudiar, etc.).
Verbos modalizados por advérbios (exs.: achar bem/mal, gostar muito/pouco, etc.);
  Frases de tipo exclamativo.

Atos ilocutórios compromissivos 

Traduzem o compromisso de o locutor realizar uma acção futura. Tem como marcas:
 Frases simples marcadas pelo futuro do indicativo ou outro do mesmo valor;
Verbos compromissivos (exs.: comprometer-se, garantir, jurar, prometer, tencionar, etc.);
 Fórmulas de despedida que dêem lugar a compromissos futuros;
Frases complexas, com lógica do tipo condição-consequência, em que a última dá lugar a comprometimento do locutor.

Exemplos:
Logo falto à aula.
Se não trouxeres o documento assinado pela tua mãe, não irás à visita.

    Atos ilocutórios declarativo 

     Expressam o poder (reconhecido institucionalmente) de o locutor criar / transformar uma realidade pelo próprio acto de dizer (actos oficiais: casamentos, reuniões, julgamentos) As marcas predominantes:
         Frases proferidas por locutores institucional ou individualmente reconhecidos com poder, autoridade;
      Verbos declarativos/performativos: declarar, renunciar, nomear, baptizar abrir, encerrar, terminar.
   
    Exemplo :
    *  Os serviços encerram por hoje.
   
    Atos ilocutórios declarativos assertivos

     Pretendem exprimir o que deve ser considerado como uma verdade a seguir, por o locutor possuir uma autoridade específica que é reconhecida pelo interlocutor. Tem como marcas: 
  Expressões modalizadas: ser fundamental, considerar importante, considerar fundamental, considerar imprescindível.

  Exemplos :
  * É essencial que o senhor traga todos os comprovativos.
  * É a resposta da Teresa que está correcta.






terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Frei Luís de Sousa ( tempo, acção,espaço, características)




Caracterização das personagens :
Madalena de Vilhena
É uma heroína romântica, vive marcada por conflitos interiores e pelo passado. Os sentimentos e a sensibilidade sobrepõe-se à razão e é uma mulher em constante sofrimento. Crê em agoiros, superstições e dias fatais (a sexta-feira). É uma sofredora, tem um amor intenso e uma preocupação constante com a filha Maria, contudo coloca a cima de tudo a sua felicidade e amor ao lado de Manuel  de Sousa, mesmo o seu amor à pátria é menor do que o que sente por Manuel. No final da obra, aceita o convento como solução,  mas fá-lo seguindo Manuel (ele foi? Eu vou).

Manuel de Sousa Coutinho
É o típico herói clássico, dominado pela razão, que se orienta por valores universais, como a honra, a lealdade, a liberdade; é um patriota, um velho português às direitas, forte, corajoso e decidido (o incêndio), bom marido, pai terno, não sente ciúmes do passado e não crê em agoiros. O incêndio e a decisão
violenta de o concretizar é um traço romântico.
            Contudo, esta personagem evolui de uma atitude interior de força e de coragem e segurança para um comportamento de medo, de dor, sofrimento, insegurança e piedosa mentira no acto III quando teme pela saúde da filha e pela sua condição social.
            No final da obra, mostra-se tão decidido como noutros momentos: abandona tudo (bens, vida, mundo)e refugia-se no convento.

Maria de Noronha
            É a mulher-anjo dos românticos (fisicamente é fraca e frágil; psicologicamente é muito forte).
            Nobre, de inteligência precoce, é muito culta, intuitiva e perspicaz. Muito curiosa, quer saber tudo... É uma romântica: é nacionalista, idealista, sonhadora, fantasiosa, patriota, crente em agoiros e uma sebastianista.
            É a vitima inocente de toda a situação e acaba por morrer fisicamente, tocada pela vergonha de se sentir filha ilegítima (está tuberculosa).

          
D. João de Portugal
            Nobre cavaleiro, está ausente fisicamente durante o I e o II acto da peça. Contudo, está sempre presente na memória e palavras de Telmo, na consciência de Madalena, nas palavras de Manuel e na intuição de Maria.
            É sempre lembrado como patriota, digno, honrado, forte, fiel ao seu rei; quando regressa, na pele do Romeiro é austero e misterioso, representa um destino cruel, é implacável, destrói uma família e a sua felicidade, mas acaba por ser, também ele, vitima desse destino. Resta-lhe então a solidão, o vazio e a certeza de que ele já só faz parte do mundo dos mortos (é “ninguém”; madalena não o reconhece; Telmo preferia que ele não tivesse voltado pois Maria ocupou o seu lugar no coração do velho escudeiro):
            D. João é uma figura simbólica: representa o passado, a época gloriosa dos descobrimentos; representa também o presente, a pátria morta e sem identidade na mão dos espanhóis / e é a imagem da pátria cativa.


Telmo Pais
            É o velho aio, não é nobre, contudo a sua convivência com as famílias nobres, “deu-lhe” todas as características de um nobre (postura, fala, educação, cultura...).
            É o confidente de Madalena e de Maria.  Fiel, dedicado, é o elo e ligação entre as duas famílias (os dois maridos de Madalena), é a chama viva do passado que alimenta os terrores de Madalena.
É muito critico, cria juízos de valor e é através dele que  consciência das personagens fragmentada que vive num profundo conflito interior pois sente-se dividido entre D, João e Maria, não sabendo o que fazer.
É um sebastianista e sofre muito pela sua lealdade.
Frei Jorge
            Irmão de Manuel de Sousa, representa a autoridade de Igreja. É também confidente de Madalena, pois é a ele que ela confessa o seu “Terrível” pecado: amou Manuel de Sousa ainda D. João era vivo. É um uma figura moderadora, que procura harmonizar o conflito, modera os sentimentos trágicos. Acompanha sempre a família, é conciliador, pacificador e impõe uma certa racionalidade, procurando manter o equilíbrio no meio de uma família angustiada e desfeita.



http://www.youtube.com/watch?v=kXKLZ8JcxVo
( video de Frei Luís de Sousa)



                                                                                                               








Classificação da obra " Memória ao conservatório real" e características do drama romântico e tragedia clássica em Frei Luis de Sousa


Drama ou tragédia?

No texto “ Memória ao Conservatório Real”, Garrett refere que, apesar de se contentar com o titulo de drama para a sua obra ,esta apresenta características do antigo género trágico (“contento-me para a minha obra com o titulo modesto de drama: só peço que não a julguem pelas leis que regem, ou devem reger, essa composição de forma e índole nova ; porque a minha, se na forma desmarece de categoria, pela índole há-de ficar pertencendo sempre ao antigo género trágico.”).


Ora a tragédia clássica centra a sua acção num conflito entre os Homens e os deuses : á arrogância do ser humano ao ansiar pela liberdade, os deuses respondem com um castigo que se traduz na catástrofe. Por outro lado, o drama romântico assenta no real, que resulta da combinação do sublime e do grotesco; o drama espelha a realidade social num dado momento e retrata o homem como vítima do destino e dos deuses, mas como ser responsável pelos seus próprios actos e paixões.


Características da tragédia clássica presentes em Frei Luís de Sousa
- Existência de um número reduzido das personagens.
- Personagens pertencentes a estratos sociais elevados.
- Condensação do tempo em que a acção decorre.
- Existência de poucos espaços.
- Acção sintética, isto é, existe um número reduzido de acções a convergir para a acção trágica.
- Reminiscência do coro da tragédia classica em Frei Jorge e Telmo Pais.

- Existência de momentos que retardam o desenlace trágico.
- Ambiente trágico marcado por uma solenidade clássica.
- Presença de elementos da tragédia clássica como :
 Ananké ( destino) – responsável pela ausência e cativeiros de D. João de Portugal durante vinte e um anos e pela mudança da família de Manuel Sousa Coutinho para o palácio de D. João de Portugal;
·         Hybris (desafio) – presente essencialmente no casamento de Dona Madalena  com Manuel de Sousa Coutinho, sem a confirmação da morte do seu primeiro marido, e no incendio do palácio de Manuel Sousa Coutinho pelo próprio;
·         Agón ( conflito) – manifesta-se a nível psicológico nos conflitos interiores e dilemas vividos por Telmo e Dona Madalena;
·         Anagnórisis (reconhecimento) – momento de identificação do romeiro como D. João de Portugal.
·         Peripéteia (peripécia) – aparecimento de D. João de Portugal e as suas consequências imediatas- ilegitimidade do casamento de dona Madalena e de Manuel Sousa Coutinho, ilegitimidade de sua  filha, morte espiritual do casal ;
·         Climax( a tensão emocional vai aumentando gradualmente ate ao momento da maior tensão emocional)- final do segundo ato, com o reconhecimento do romeiro;
        Pathos (sofrimento)  - sofrimento das diversas personagens devido ás incertezas que as assolam, aso sentimento de culpa (no caso de D. Madalena) e á dissolução da família;
·         Katastrophé (catástrofe)- morte de Maria, separação e morte espiritual do  casal, desgosto de Telmo e consciencialização de D. João de que já não faz parte do mundo daqueles que amou;
·         Cathársis (purificação) – renuncia ao prazer mundano pelo casal, que se refugia no convento , e ascensão de Maria ao espaço celeste, devido á sua inocência.

Características do drama romântico presente em Frei Luís de Sousa:
- o texto escrito em prosa;
- a critica social aos preconceitos que vitimam inocentes (como Maria);
- a situação real que subjaz á ação da peça, o que reitera a preocupação de Garrett com a verdade e a realidade dos acontecimentos;
- o Homem como alvo de atenção analítica;
- A exaltação dos valores patrióticos e nacionais (sobretudo através de Manuel Sousa Coutinho) ;
- as superstições e agouros populares que retratam a cultura portuguesa ;
- a religião crista como um consolo;
- o realismo psicológico que caracteriza a transformação dos sentimentos de Telmo, dividido entre o amor a D. João e a D. Maria de Noronha;
- a projecção da experiência pessoal do autor, que possuía uma filha ilegítima de Adelaide Pastor Deville, por quem se apaixonara ainda casado com Luísa Midosi;
- a morte de Maria em palco;
- o não cumprimento da lei das três unidades da tragédia (unidade de ação , de espaço e de tempo)




Comunicado

Comunicado é um texto cativante, inédito, verdadeiro, objectivo e denotativo. Um comunicado representa um antónimo de comunicação já que este não espera obter uma resposta por parte do receptor, enquanto que para haver comunicação têm que pelo menos existir um emissor e um receptor. Os comunicados são escritos para anunciar alguma ideia ou lei (comunicar algo a alguém).


Características :
Em geral, o comunicado contém informação voltada para os próprios jornalistas, como a troca nos números de telefone da instituição ou o cancelamento de uma entrevista colectiva, por exemplo.
Ao primeiro paragrafo chama-mos de introdução ou lead. Alguns apresentam introdução de acordo com a estrutura do texto narrativo. Outros têm, logo no inicio, um parágrafo-síntese da matéria que o resto do texto desenvolve (data, hora, local, entidade/s predominantemente envolvida/s)
Os restantes parágrafos têm tendência a ser curtos, com uma linguagem simples e muito clara e contêm as informações ordenadas das mais importantes para as menos importantes.
Tipos de comunicado: 
Existem diversos tipos de comunicado: de reunião, de evento, de modificação de um local ou uma data, etc. Irá depender do objetivo do comunicado. Se for comunicar sobre uma reunião, então teremos o comunicado de reunião, se for para informar sobre um determinado evento, então será um comunicado de evento e, assim, sucessivamente. 

Exemplo de um comunicado:



segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Frei Luis de Sousa

Verdade histórica 


Manuel Sousa Coutinho, nasceu em Santarém por volta de 1555, era um fidalgo, cavaleiro da Ordem Militar de Malta e prestou serviços a Filipe II de Espanha. Depois de ter estado em Espanha durante cerca de dois anos, regressou a Portugal, tendo casado por volta de 1586, com D. Madalena de Vilhena que tinha três filhas do primeiro casamento com D. João de Portugal, desaparecido na batalha de Alcácer Quibir.

Em 1613 depois de lhes ter falecido a filha, resolveram entrar para o convento. Como explicação para esta atitude existem várias explicações e teorias. Uma delas é que um peregrino regressado da Terra Santa tinha trazido a noticia de que D. João de Portugal estaria vivo, o que  tornaria impossível a vida em comum dos cônjuges. Depois de entrar no convento muda o nome para "Luís de Sousa" passando a ser conhecido por "Frei Luís de Sousa"





D. Sebastião

D. Sebastião nasceu a 20 de Janeiro de 1554 em Lisboa e com apenas 14 anos já governava Portugal. Foi o décimo sexto rei de Portugal e o sétimo na Dinastia de Avis era neto do rei D.João III de quem herdou o trono, quando tinha apenas 3 anos.  
Dom Sebastião O Desejado
Dom Sebastião O Desejado
Quando Dom João III morreu, em 1557, já todos os seus nove filhos já haviam falecido como herdeiro direto restava apenas um neto, Dom Sebastião, que tinha nessa altura apenas três anos de idade. Foi nomeado um regente até que o jovem rei tivesse idade para governar. Quando fez quatorze anos, Dom Sebastião tomou conta do governo. Sendo, além de jovem, muito religioso e influenciável, o seu modelo eram os antigos heróis e o seu sonho as grandes batalhas de combate aos infiéis. Daí que o seu principal projeto fosse conquistar Marrocos aos muçulmanos. Não era, aliás, o único a defender esta idéia. Desde que a Índia começara a dar mais prejuízos que lucros, muita gente estava de acordo em que era preferível conquistar o Norte de África – zona rica em cereais e comércio – do que continuar a manter com grandes sacrifícios o Império do Oriente.
Com o que quase ninguém esteve de acordo – sobretudo as pessoas mais prudentes – foi com a maneira como D. Sebastião preparou e dirigiu a sua expedição ao Norte de África. Em 1578, tinha então vinte e quatro anos, partiu para Marrocos com um exército de dezesete mil homens, dos quais cerca de um terço eram mercenários estrangeiros.
Embora os militares mais experimentados na guerra o aconselhassem a não se afastar da costa de onde lhe poderia vir auxílio dos navios portugueses, o rei preferiu avançar para o interior com as suas tropas. Encontrou o exército muçulmano em Alcácer Quibir e aí se travou a célebre e infeliz batalha em que foram mortos ou feitos prisioneiros praticamente todos os portugueses que nela participaram.
O rei também morreu na batalha, mas nenhum dos portugueses que regressaram disse que viu o seu corpo. A chegada da notícia desse desastre a Lisboa provocou cenas de perturbação e dor indescritíveis. Das famílias nobres, poucas eram as que não tinham perdido um ou mais dos seus filhos e parentes. Outros tinham ficado cativos em Marrocos e iria ser preciso pagar grandes importâncias para os libertar. Mas, sobretudo, os portugueses choraram o seu rei que tinha morrido solteiro e sem deixar descendentes. Dois anos depois, Portugal perdeu a sua independência política, visto que Filipe II rei de Espanha e neto do rei Dom Manuel I, subiu ao trono de Portugal. Durante os anos que se seguiram, o povo acreditava que Dom Sebastião não tinha morrido na batalha e iria regressar a Portugal, numa noite de nevoeiro. Então, reclamaria para si o trono e o reino ganharia de novo a sua independência. Esta crença popular ficou conhecida na história com o nome de “Sebastianismo”.

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